quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Poesia em conta-gotas

paulovpinheiro
17092011

Outro dia li um desabafo de um poeta que dizia que não entendia como pessoas poderiam escrever poesia sem serem poetas ou sem dominarem completamente a linguagem, a gramática, ou todo o resto.
É sim, isto li e concordo... em parte.
Há tempos que não lemos páginas perfeitas, há tempos que não temos algum super-herói nacional na literatura, digo da literatura de verdade.
Há quem saiba escrever, isso tem, mas interessantemente teremos de ter também bons leitores.
Uma das formas que podemos injetar um ânimo nas pessoas que lhes estimulem a ler e se qualificar é a escrita.
Seja ela boa ou má, não importa, mas que seja então.
Entrementes, podemos perceber que a maioria das pessoas não se qualificam e se dependermos das escolas da vida, as mesmas escolas que os brasileiros freqüentam, demorará um pouco para que tenhamos ou leitores ou escritores de nível.
É maravilhoso ler um Guimarães Rosa, por exemplo, ele nos ensina a escrever, é certo, mas as gentes de hoje, e falo das pessoas normais, aquelas que encontramos nas ruas, não tem notadamente interesses literários com profundidade que pretendemos ou deveríamos pretender. Parece que as vidas sãs pessoas são muito duras, ou que as escolas tem sido muito moles, ou que as pessoas tem sido muito desestimuladas a aprender, tipo aquelas que usam tipo para tudo.
O nosso vocabulário foi reduzido, reduzido demais.
As pessoas para serem estimuladas a escrever tem de começar.
Os blogs são gavetas da história da evolução da linguagem de cada um.
Há muitos anos atrás eu até conhecia um pouco do meu idioma na forma escrita. Falava razoavelmente e escrevia constantemente, com um ritmo razoável. O tempo trouxe substitutos estranhos ao interesse do escrever e foi me afastando de certos amores literários. A própria leitura foi ficando em segundo plano, alguma vez em terceiro e até...
Há algum tempo voltei a ler e não quis esperar muito para voltar a escrever. Fiz isso num blog e sei que há coisas bem ruinzinhas, mas tudo foi feito com muito carinho. Quem olha as postagens pode perceber que não sou regular, mas constante. Meu interesse não foi sufocado. Ouvi críticas e as que chegaram a mim foram trabalhadas. E por aí vai.
Não apaguei os meus erros, eles fazem parte de certa evolução.
Sei que não sei escrever direito, sei que tenho muito a aprender, sei que ninguém me ensinará, sei que todo o processo do aprender é pessoal e silencioso, mas... mas no meu caso nem tanto, tanto que o faço postando.
Se eu pudesse dizer alguma coisa a alguém que quisesse iniciar a escrever eu diria: faça, não importa quantos erros apareçam na página. Faça e depois corrija, se quiser. O pior é nunca fazer para nada ter a corrigir.
Talento para a poesia não tem nada a ver com formalidades. Há textos perfeitos, sem erros gramaticais ou de concordância, uns com alma e outros sem – grande parte sem. Há transcrições de cordéis nordestinos, simples, gatarrujados, vomitados por seus poetas em tempo certo. Poetas sertanejos e analfabetos. Alguns muito analfabetos. Lindos, perfeitos, cheios de alma. O que pedir mais da poesia? O que mais do poeta pedir? O que mais que a alma?

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