“No tempo que vinham mudando os seres e as coisas
Chegavam também os primeiros gritos da vinda do homem novo
Que vinha trazer à carne um novo sentido de prazer
E vinha expulsar o Espírito dos seres e das coisas.”
De “O único caminho” 1933.
Linha 9 a 12
Há quase 100 anos, Vinícius de Morais, explica numa de suas primeiras escritas um sentimento, aquele que perseguiu toda uma época que teve como maior característica a reforma da relação do homem com a natureza, com a secundarização do divino nas coisas.
Após a chuva de realismo do século XIX, do positivismo maçônico, da degradação religiosa no ocidente, Deus deixa sua divindade para ser apenas deus. Assim deixa de ser a razão para ser um adereço histórico, social, poético – pela afirmação de (S)sua grandeza ou não.
Uma poesia atéia. A poética desligada dos princípios mágicos do conhecido desconhecido.
Numa época de Arte Moderna, engajamento do cinema roliudeano em desmistificar e materializar o ocidente, cumprindo certos Protocolos, parte da intelectualidade se fez surda,cega e muda aos apelos de Henry Ford quando fez suas denúncias sobre o internacionalismo, sobre o pós guerra e o pré guerra; a dor, o medo e a culpa.
Ingredientes interessantes com resultados igualmente. Assim encotramos as novas linguagens de Vinícius, Monteiro Lobato e tantos outros. O modernismos com seus aliados e desalinhados.
A importância disso tudo é perceber que hoje certas correntes indicam novos caminhos e que surfamos na maionese quando não prestamos atenção no que vai dar, e dá no que deu num passado recente.
Não negamos que aquela geração, com seu antes e depois, revolucionaram a escrita e o jeito de expressão.
Agora, neste instante, o que move o mundo? Qual a importância dos porta vozes que serão utilizados para a propalação dos novos conceitos? Nós.
Estou falando dos que escrevemos, por exemplo. O que esses conceitos mudam na nossa linguagem?
Há a impressão de coisificação. Desimportantização.
Quando chamo meu cachorro, também, ele baixa sua cabeça para que eu passe a coleira, e você? Entenda como entender.
Vejam na mesma obra Vinícius dizer:
“Eu já de há muito tempo vos espio
Na vossa estranha caminhada.
Como quisera estar entre o vosso cortejo
Para viver entre vós a minha vida humana...
Talvez, unido a vós, solto por entre vós
Eu pudesse quebrar os grilhões que vos prendem...”
Aqui nosso poetinha sugere que pode libertar as almas dos que seguem a Luz para que elas, sem remorsos, adentrem na seara das trevas ou dos prazeres.
Aqui ele confessa conspirar contra a Luz, contra Deus.
De verdade é o que a humanidade aprendeu na primeira metade do século XX, talvez guiado por uma raposa daquele século entre outros, libertar-se do sentimento do divino, acostumar-se com os vícios sem censuras, sem morais, sem barreiras internas.
Na segunda metade daquele século a substituição do Deus por algo mais rico, mais fascinante, mais individual, mais hipnótico. Drogas, novas guerras, tecnologias eletrônicas, fibras óticas, fim das distâncias... uma nova poesia.
Porque os clássicos ficaram tão distantes? Por que não dizem o mesmo hoje? Por não mais representam inteligência?
Será porque as necessidades sejam outras e as linguagens são perversamente não compreensíveis, pobres?
Por que? Por quê? Porque? Porquê?
Por que não mais perguntamos? Ficamos velhos mesmo que nascendo ontem?
Sabemos o que se diz dos apaixonados, mas o que sabemos daqueles que amam?
Iniciei o texto com um poeminha do Poetinha e termino perguntando o que se fará da Luz.
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