Uma dose a mais, a última, a primeira do dia
Um deslizar constante para onde não sei
O quente e macio gesto do adeus demorado
A sangria e o cheiro do mato cortado
A chuva e uma tristeza que não sacia
Descer a serra se faz fácil e rápido
O destino não há, mas a vontade de se ir
Assim, embriagado, mergulhado no fim
De mim nem haverá lembranças
Por certo não haveria de haver
O sonho de se sentir acordado
A percepção de ser diferente
Sinto o tempo encolhendo, vacilante
Abro a porta de meus olhos
E mudo as cores do espectro
Trocando as pernas pelas ruas
Como quem anda, à toa, achando
Já não sou mais o que pensei
Isto é, não sei nada de mim
Hoje ando mais tonto que ontem
Feliz e aceitando tudo que não entendo
Abraço outros bêbados como fui e sou
Acreditamos num mesmo deus
Lutamos as mesmas guerras
Somos imbecilmente apaixonados
O que me embriaga é de outra natureza
Minha natureza foi a das choças
Hoje não sei mais, por mais que busque
O que anda por dentro é morno
Acredito no que a maioria quer
E não sei mais o que quero... de mim
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