segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Flocos de neve - 210914

O ar parava, assim como param os amantes antes do beijo

Sob uma árvore ensanguentada ouvi o canto do pássaro

Abri um livro e me vi despido de segredos como quando nasci

E no asfalto como em artéria aberta vi se lançar o breu

E choveu, e molhei, e verti, e de páginas abertas me escrevi

Quando cheguei no fim do terceiro sonho me assustei

Achei que deveria acordar e vacilante e deserdado espreguicei

Como o vento leva a fumaça, os sonhos pararam de pairar

E na minha mente empoeirada e flácida as coisas voltaram

No lugar de devaneios ficaram os ocos das pedra das agendas

Compromissos sólidos de fantasias que se concretizam

Por malsão desígnio ou por caprichos da força que impera

Então, já que este é o mundo que conta, nada mais a contar

Fôlego, é o que necessitamos para o próximo passo

Depois do café, o trabalho, o almoço, resolver e arrumar problemas

O fim, da tarde, o olhar para coisas de dentro do lado de fora

A busca do prazer e a perda de noção... Sem noção

Poesia fria, num livro nu, sem capa, despido, descabido

Páginas escritas em branco, melhor seria, desescrita

Criptografada, ininteligível, hermética, desconstruída

Flocos de neve que não derretem que não estão nem aí



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